O contexto do Brasil em 1973 O acidente do voo Varig 820, que ocorreu em 11 de julho de 1973 em Orly, França, cujo piloto era Gilberto...

Será que foi mesmo uma bituca de cigarro? A tragédia do voo da Varig em Orly, na França, e os segredos por trás de tudo isso

Publicado por | sábado, outubro 19, 2024 Deixe um comentário

 

O contexto do Brasil em 1973

O acidente do voo Varig 820, que ocorreu em 11 de julho de 1973 em Orly, França, cujo piloto era Gilberto Araújo da Silva, nascido em 1923 na cidade de Santa Luzia, Paraíba, deixou uma marca indelével na história da aviação brasileira. O Brasil, à época, vivia sob a Ditadura Militar liderada pelo general Emílio Garrastazu Médici, um regime autoritário e fechado, onde a censura imperava e qualquer informação poderia ser facilmente manipulada. Esse contexto político contribuiu para que a versão oficial sobre o desastre fosse lenta e cuidadosamente divulgada, levantando suspeitas sobre a veracidade dos acontecimentos.

 

Durante a ditadura, a Varig era uma empresa de prestígio e, de certa forma, alinhada ao regime. A relação entre a companhia aérea e o governo era simbiótica, com ambos compartilhando interesses que transcendiam a aviação comercial. Esse vínculo foi posto em evidência no caso do voo 820, uma tragédia que levantou inúmeras especulações, especialmente em torno da carga que o Boeing 707 transportava.

 

O voo trágico e as primeiras versões

 

O voo 820, que partiu do Rio de Janeiro com destino a Paris, transportava 17 tripulantes e 117 passageiros, incluindo figuras notáveis como o senador Filinto Müller, então presidente do Senado Federal; o cantor Agostinho dos Santos; a atriz e socialite Regina Lecléry; o iatista Jörg Bruder e os jornalistas Júlio Delamare e Antônio Carlos Scavone. A tragédia se abateu a poucos minutos do pouso, quando um incêndio irrompeu a bordo, forçando a aeronave a realizar um pouso de emergência em uma plantação de repolhos próxima ao aeroporto de Orly. Dos 134 ocupantes, apenas 11 sobreviveram, sendo um passageiro, Ricardo Trajano e 10 tripulantes, incluindo o piloto Gilberto Araújo.

 

As investigações iniciais logo apontaram para um incêndio que teria começado no banheiro traseiro do avião, provocado, segundo o laudo oficial, por uma bituca de cigarro descartada de forma inadequada na lixeira. Contudo, o laudo oficial, no Brasil, só foi divulgado cerca de um ano e meio após o acidente, o que levantou muitas suspeitas e fomentou teorias alternativas. De acordo com o livro “Caixa Preta de Ivan Sant’Anna, o laudo Francês só saiu 3 anos depois.

 

O assento ejetável do Mirage: uma carga misteriosa?

 

Entre as especulações mais controversas estava a de que o voo Varig 820 estaria transportando, em seus porões, um assento ejetável de um avião Mirage, de fabricação francesa, que teria sido enviado à França para manutenção. A FAB (Força Aérea Brasileira) utilizava caças Mirage, e tais equipamentos eram sensíveis e perigosos. O assento ejetável, equipado com foguetes que são disparados de acordo com a altitude, deveria ter sido desarmado antes de ser embarcado em uma aeronave comercial de passageiros. Contudo, rumores de bastidores indicam que esse procedimento pode não ter sido realizado corretamente.

 

Esses mesmos rumores sugerem que o assento ejetável não estava desarmado, e um erro humano poderia ter causado o acionamento dos foguetes a bordo. Embora nunca confirmado oficialmente, essa teoria sustenta que o incêndio pode ter sido causado por uma combustão espontânea de componentes do equipamento militar. A escolha de um voo comercial para transportar material bélico, ao invés de um cargueiro militar, também levanta questões sobre a legalidade e a prudência dessa decisão. Nos dias de hoje não seria permitido, em um voo comercial, tal carga. Vale salientar que, de acordo com o único passageiro sobrevivente, Ricardo Trajano, a fumaça se alastrou muito rapidamente, uma fumaça preta e tóxica, fazendo com que o mesmo, até hoje não acredite nessa versão da bituca do cigarro, até porque, ele estava sentado muito próximo ao banheiro e viu todo o início, os primeiros sinais da fumaça que, quando ele se dirigiu para a frente do avião, nesse pequeno espaço de tempo, a fumaça já havia tomado conta de todo o avião.

 

A polêmica nos bastidores

 

O livro "Caixa Preta", de Ivan Sant'Anna, é uma das principais obras que expõe essas teorias alternativas. Baseado em extensa pesquisa e entrevistas com tripulantes, peritos e familiares das vítimas, o livro questiona a versão oficial e sugere que a história real do voo 820 pode ter sido abafada pelo governo militar e pela própria Varig.

 

O mecânico de voo Claunor Bello, que estava a bordo do voo Varig 820 e sobreviveu, faleceu anos após o acidente sem jamais acreditar na versão do cigarro. Ele era um dos que defendiam a tese de que a fumaça teria sido causada por uma explosão ou combustão de componentes do assento ejetável do Mirage. Essa teoria, embora nunca provada, circulou amplamente entre ex-funcionários da Varig.

 

Além disso, em uma edição de 6 de agosto de 1973, o jornalista Hélio Fernandes, da Tribuna da Imprensa, escreveu que não houve incêndio no banheiro do Boeing 707, mas sim um gás letal que se desprendeu do compartimento de bagagens, matando os passageiros por asfixia em menos de um minuto. Fernandes citou autoridades francesas como fonte e alegou que a versão oficial seria divulgada em poucos dias. Curiosamente, jornais franceses como o Le Journal du Dimanche e o France-Soir publicaram a mesma teoria sobre o gás letal, alimentando ainda mais as especulações.

 

O laudo oficial e as falhas na tradução

 

O laudo final das autoridades francesas, publicado no Journal Officiel de La République em 1976, concluiu que o incêndio teve origem no toalete traseiro, causado por um cigarro. Segundo o relatório, não houve qualquer anomalia ou vestígio de explosões no compartimento de bagagens. Contudo, uma análise cuidadosa dos documentos revelou uma discrepância importante: a tradução do laudo francês para o português, realizada pelo Ministério da Aeronáutica do Brasil, foi manipulada.

 

Enquanto o laudo original afirmava que as lixeiras do banheiro do Boeing 707 não estavam de acordo com as normas de segurança americanas, a versão brasileira suprimiu essa informação, sugerindo que os materiais empregados no avião estavam dentro das regulamentações. Essa distorção na tradução foi utilizada como prova em tribunais brasileiros nas ações judiciais movidas por parentes das vítimas contra a Varig. Muitos familiares aceitaram acordos por valores inferiores, baseando-se em informações distorcidas.

 

Conclusão: bituca de cigarro ou algo mais?

 

A história do voo Varig 820 em Orly continua envolta em mistério e controvérsia. A versão oficial — de que um cigarro foi a causa do incêndio que vitimou 123 pessoas — é contestada até hoje por muitos que acreditam em um encobrimento. A censura da época, as relações entre a Varig e o governo militar, e as dúvidas sobre a carga transportada no voo perpetuaram as suspeitas.

 

Por que a investigação demorou tanto para ser concluída? Qual era o verdadeiro conteúdo dos porões do Boeing 707? Teria sido um erro humano com o equipamento do Mirage? Ou foi, de fato, uma bituca de cigarro? Essas perguntas permanecem, décadas depois, sem respostas definitivas.

 

Ricardo Trajano, o único passageiro sobrevivente do voo, além dos dez tripulantes, num total de 11 sobreviventes (123 mortos), há cerca de 5 anos realiza palestras sobre o assunto. Em uma de suas palestras, ele disse que, certa vez, encontrou um rapaz que tem o nome Ricardo em homenagem a ele. Entenda a situação:

 

Coisas do destino?!

 

Na época, as poltronas eram escolhidas no momento do check-in. Ricardo trajano, ciente disso, chegou cedo para garantir a última fileira, acreditando na segurança dessa parte do avião, baseada em matérias que diziam que a cauda era menos afetada em acidentes aéreos. Como havia 17 tripulantes, as últimas poltronas estavam reservadas para o descanso da equipe, e ele acabou ficando na fileira logo à frente. Duas poltronas ao seu lado estavam destinadas a passageiras que, por coincidência, perderam o voo, deixando Ricardo com as três cadeiras livres para ele. Ele conta que, se elas tivessem embarcado, talvez ele não tivesse ido à frente ao perceber a fumaça, por não querer incomodá-las. Uma das passageiras, grávida na época, colocou o nome de seu filho de Ricardo em homenagem ao único passageiro sobrevivente, Ricardo, que, caso estivesse ali, estaria sentado ao seu lado. Coisas do destino?!

 

Henrique Melo - Rede Sertão PB

 

Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial

0 comentários: